Holanda na Copa de 1998, o time que me fez enxergar o futebol de outra forma

Crônicas do Juanzão
7 min readNov 26, 2018

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Foto: Imortais do Futebol

Apesar da boa campanha em 1994, quando caiu nas quartas, num jogão contra o Brasil e acabaram sendo eliminados. Boa parte daquela seleção, faria parte quatro anos depois de uma das melhores gerações da história, e eu contarei um pouquinho daquele grande time.

Após à Copa do Mundo em 1994, Guus Hiddink assumiu o comando da laranja, conhecido por ser um treinador que gostava da bola, e que não era um retranqueiro como seu antecessor Dick Advocaat, que contrariou os mandamentos de Johan Cruyff e Rinus Michels e jogou à Copa de 1994, num 3–5–2, com Overmars escalado de ala direito.

Em 1995 surgiu uma das melhores gerações do futebol holandês, boa parte daquela seleção era a base do time do Ajax, que foi campeão mundial em cima do Grêmio de Felipão. Acho que foi a última seleção holandesa que encantou o mundo, eu não escondo de ninguém que passei a ver o futebol com outros olhos depois que vi esse time jogar.

Eurocopa 1996

Entretanto, na preparação para à Euro de 1996, Hiddink foi fuzilado pela imprensa duas holandesa por contrariar à cartilha de Cruyff que dizia “Para jogar com dois avantes é preciso ter um muito alto e bom no jogo aéreo…”. O então técnico holandês optou por usar um 4–4–2, com duas linhas quatro e dois atacantes infiltrados.

Como citei acima o Ajax era a base desse time, afinal eram os atuais campeões da Champions e campeões mundiais em cima do Grêmio, entre as promessas daquele time estavam os irmãos De Boer, o goleiro Van Der Sar, Seedorf, Edgar Davids, Kluivert entre outros. Além deles Hiddink tinha à sua disposição grandes jogadores como o atacante Dennis Bergkamp (Arsenal-Ing), o zagueiro Jaap Stam (Manchester United), os meias Phillip Cocu e Jonk (PSV), entre outros craques.

Entretanto durante a Eurocopa na Inglaterra, em 1996, surgiu a informação na imprensa holandesa de que havia uma divisão no elenco, após uma foto publicada no almoço da seleção holandesa em que negros e brancos não se juntavam. Uma panelinha formada por Clarence Seedorf, Edgar Davids, Bogarde, e Kluivert se isolavam do grupo dos jogadores brancos, comandado por pelos irmãos De Boer (Ronald e Frank), Phillip Cocu e Dennis Bergkamp.

Porém em sua biografia Patrick Kluivert diz que tudo isso não passou de um mal entendido “Fiquei muito irritado. Se o dono da câmera prestasse atenção, teria notado que no dia anterior eu tomava o café da manhã sentado com Van der Sar, Frank de Boer e Blind. E almoçara com Jordi Cruyff, Peter Hoeskstra e Youri Mulder. Colocaram uma bomba no ambiente da Oranje, e não tinha nada a ver com a realidade.” Disse o ex- atacante.

O que realmente ocorreu, foi uma demonstração de orgulho de três jogadores que tinham ascendência surinamesa (Kluivert, Seedorf e Davids), após a classificação contra a Irlanda os três jogadores em uma entrevista para a TV NOS, surgiu a expressão “Kabel”, expressão essa que não foi muito bem aceita por quem via de fora e após a foto de Guus Dubbelman, as pessoas deduziram que havia ali um suposto racha no elenco. O que realmente ocorreu, foi uma demonstração de orgulho entre os jogadores de ascendência surinamesa após uma grande classificação para as quartas de final da Eurocopa. Porém como sempre acontece com a laranja, os holandeses caíram nos pênaltis para à França, placar de 5 a 4, para os franceses.

Preparação para à Copa do Mundo

A derrota para a França pelo menos serviu para acalmar os ânimos, Hiddink conseguiu juntar todos e formar uma seleção forte para a Copa do Mundo. Guus Hiddink montou um time num 4–4–2, contrariando os ensinamentos de Cruyff, o time era composto por uma defesa forte e sólida com Van der Sar, Reizinger, Stam, Frank de Boer e Numan; no meio de campo de muita qualidade com e sem a bola, que contava com Ronald de Boer, Jonk, Davids e Cocu; na frente os principais jogadores holandeses daquela época Dennis Bergkamp e Patrick Kluivert.

Foto: Imortais do Futebol

Esse time era brilhante, porém muito diferente do Ajax de 1995, que acelerava mais do que o estilo Hiddink permitia, era um estilo que chegava a lembrar o de Guardiola “toca, toca, toca… muitas vezes não saia do lugar” disse PVC em seu livro Tática Mente.

A “bagunça étnica” envolvendo o selecionável holandeses na Euro, fez com que o técnico Guus Hiddink instituísse uma cartilha de normas de comportamento para todo os jogadores com relações à imprensa e à torcida. Hiddink também passou a mudar o seu comportamento perante aos jogadores, passou a ser mais rígido dentro e fora de campo. Os atletas mudaram seus comportamentos, passaram a viver em harmonia em busca de um só objetivo, afim de acabar com a sina de sempre montar boas seleções e sempre cair nas finais.

Copa do Mundo 1998

A estreia da seleção holandesa foi no Stade de France palco da grande final, a laranja entrou em campo contra a sua maior rival à Bélgica, para mais de 75 mil pessoas. E o que se viu foram os holandeses sufocando os belgas, taticamente era uma Holanda jogando num 4–4–2, diferente do tradicional 4–3–3, o time de Hiddink pressionava e o gol não saia. Hasselbaink ainda perdeu um gol incrível e o time também pecou nas finalizações, com isso o placar permaneceu mesmo no 0 a 0 e ascendeu o sinal de alerta em relação ao poder de fogo da equipe. Para ajudar Kluivert levou cartão vermelho e assim desfalcaria a laranja nas próximas partidas, na partida seguinte uma vitória sobre a Coreia do Sul, por 5 a 0, com gols de Cocu, Overmars, Bergkamp (um golaço), Van Hooijdonk e Ronald de Boer. Na última partida, um empate contra o México selou a classificação holandesa para as oitavas de finais.

Passada a fase de grupos, uma coisa era certa, a Holanda possuía uma excelente time que apresentava um futebol exuberante coisa de encher os olhos de que assistia, porém certa ineficácia na hora das finalizações e as vezes um certo recuo desnecessário poderiam ser prejudiciais na fase de mata-mata.

Nas oitavas de finais, o selecionável holandês iria enfrentar um adversário perigoso, à temida Iugoslávia, de Mijatovic, Mihajlovic, Jugovic, Stojkovic e contava ainda com Savicevic no banco. O time iugoslavo era um time muito técnico e com um contra-ataque de se invejar.

Agora falando de bola rolando, a Holanda foi a senhora do primeiro tempo, fez 1 a 0 com Bergkamp e poderia ter feito mais, a entrada de Seedorf deu a seleção holandesa mais mobilidade. Seedorf e Davids eram uma dupla perfeita e foi dali que saíram as principais jogadas, era bonito de ver bola de pé em pé e chegavam ao gol adversário com extrema facilidade.

Porém no segundo tempo, Iugoslávia acordou e chegou ao empate. Minutos depois, Mijatovic bateu um pênalti, mas a bola acabou batendo na trave. A sorte dessa vez estava de vez com a laranja, os Holandeses voltaram pro jogo e foram premiados com um gol de Davids, aos 43min da segunda etapa, um prêmio a um dos principais jogadores daquela equipe e fundamental no esquema de Hiddink.

No duelo seguinte, um dos encontros mais aguardados estava para acontecer, a laranja iria enfrentar a fortíssima seleção da Argentina que contava com Gabriel Batistuta (artilheiro da competição), Ortega, Simeone, Zanetti, Almeyda, Verón e companhia. A promessa era de um jogão, a seleção holandesa contava com a volta de Kluivert suspenso no primeiro jogo da fase de grupos.

Foto: Fifa Word Cup 1998

Como em todos os jogos a Holanda sufocou os Hermanos desde o início com jogadas incisivas, tentativas de gol até que Kluivert invadiu a área e abriu o placar para a seleção holandesa. Insaciável os holandeses seguiram no ataque, entretanto numa falha da defesa holandesa Claudio López empatando a partida. O gol da vitória holandesa só foi sair no último minuto, após um lançamento magistral de Frank de Boer para Dennis Bergkamp, que cortou Ayala e finalizou sem chances para o goleiro, decretando assim à vitória holandesa, por 2 a 1, a Holanda estava entre as quatros melhores.

Então veio o Brasil, a Holanda iria rever o rival de quatro anos atrás, o atual campão e favorito ao título. O time de Zagallo gostava mais de segurar a bola, até pelas características de seus jogadores Leonardo, Rivaldo, Ronaldo e Bebeto, contra uma Holanda que também gostava da bola, porém tinha sua verticalidade pelas laterais e muita variação de jogadas.

Após um primeiro tempo sonolento, no início da segunda etapa Ronaldo abriu o placar e, o 1 a 0, ia se arrastando até que na fragilidade da defesa brasileira Kluivert subiu sozinho na área para cabecear e empatar a partida. Após uma prorrogação com “morte súbita” com um futebol arte de ambos os lados a decisão estava nas mãos dos goleiros e foi aí que Taffarel apareceu e estragou mais uma vez o sonho holandês de conquistar o mundo. As cobranças de Ronald de Boer e Philip Cocu pararam nas mãos do goleiro brasileiro.

A Holanda de 1998 foi a primeira em vinte anos a chegar às semifinais, não era o estilo holandês pregado por Cruyff, porém dava gosto de ver aquele time jogar. Foi um privilégio poder ver todos esses craques jogando juntos, uma geração que infelizmente jogou apenas uma Copa, mas que encantou e encanta até hoje esse jovem jornalista.

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Crônicas do Juanzão

Sou Juan, tenho 29 anos. Jornalista, podcaster e dono do podcast “E aí, Juanzão?”, roteirista e editor de vídeo nas horas vagas. Portfólio http://gramlink.co/oj